domingo, 30 de junho de 2013

Amigos,o livro "Outros Tempos" já está disponível para compra. Pedidos podem ser feitos pelo celular 8868 - 1405.

terça-feira, 24 de abril de 2012

domingo, 19 de setembro de 2010

RESPEITO DOMINICAL

Domingo indeciso, chuva e sol brincam de esconde-esconde. Em uma brecha de estiagem minha mulher, como faz sempre, sequestra um dos nossos filhos e parte para o mercantil – palavra antiga, anterior ao pomposo Supermercado. Fico na casa fechada quase hermeticamente, os filhos que escaparam às compras dormem embalados ainda pelas ondas das navegações internéticas da madrugada anterior. “Ao menos estavam em casa”, diria minha sábia mãe. Analiso as opções: ler o jornal de domingo recheado de cultura, diferente da ensanguentada edição da segunda-feira. Caio em mim, o jornal do domingo já li, era aquela segunda edição do sábado; penso em degustar algum livro, talvez A náusea vá bem, mas, sei lá, Sartre em um domingo logo cedo... inverto a ideia, resolvo escrever, continuar o livro iniciado há quase um ano e que agora se aproxima do fim, e, aliás, quanto mais perto do epílogo mais eu tenho me distanciado dele, não sei! Isso me parece questão para o divã. Ligo o computador – viva a tecnologia -, “abro” o arquivo correspondente onde “salvei” o escrito e, voilà, surgem à minha frente signos que mesmos aglutinados por mim não parecem me pertencer. Releio os primeiros capítulos, avanço e releio os dois últimos escritos até aqui e espero...espero... até que o personagem que fechou o capítulo derradeiro me conta como prosseguir a trama, me ajeito na cadeira e antes do primeiro toque...ding-dong, a campainha toca, e toca, e mais uma vez fere o ar com aquele irritante som, custo a perceber que é aqui, no mundo real, e não lá na página iluminada do monitor. Aquieto-me, suspendo a respiração e espero. Ding-dong de novo e mais uma vez. Deve ser uma emergência, racionalizo, ninguém seria tão insistente e irritante vendo, do portão da rua, uma maciça porta cerrada se não fosse algo muito sério ou talvez – minha paranoia se manifesta – seja algum assaltante verificando se existe alguém em casa antes de invadir para surrupiar os meus bens materiais mais venerados: meus livros e meu livro – junto com o computador. Pelo sim, pelo não resolvo atender aos gritos estridentes daquele aparelhinho, tão pequeno e tão irritante ou eu que sou irascível.
Atravesso toda a casa até chegar à maciça porta, desviro a chave com um barulho medonho naquela calada manhã e deixo o mundo entrar, ou saio para ele, não sei bem. Deparo-me com uma cena surrealista: o grande portão de chapa que separa o jardim da rua tem, no retângulo aberto em seu ventre, olhos, nariz e boca, e mais, fala comigo. Coisa que por mais que eu tenha tentado aos gritos quando ele emperra nunca havia acontecido. E após vários anos de serviços prestados e de convivência descobri que o danado é educado.
- Bom dia, como está o senhor?
- Eu estou bem, mas quem é você? Perguntei como se quisesse saber, talvez, o nome do portão.
- O senhor não me conhece – disse o umbigo do portão.
Ai eu percebi que o chapado continuava sem querer conversa comigo, ele apenas emprestava o seu corpo para outra voz. A voz de uma mulher. Bem que achei que um portãozão daqueles não devia ter uma voz tão fina e adocicada.
- Em que posso lhe ajudar? Perguntei tentando chegar direto ao ponto, já sentindo a voz do meu personagem lá no computador desonerar.
A mulher do outro lado do portão contou então que estava ali para me fazer um convite. Estranhei: uma pessoa que não me conhece bate à porta da minha casa em um domingo para me convidar para algo? Isso era bem incomum, mas fiquei ouvindo e, depois de feito o tal convite, percebi que não era para mim, mas para toda e qualquer Homo Sapiens (ou nem tão sapiens assim) . Agora ficava claro. Ela queria que eu fosse a uma reunião em uma seita, conhecer os ensinamentos que o mestre (dela), tão gentil e generoso, tinha para dividir comigo.
Por alguns instantes fiquei parado, a barriga do portão me encarando, tentando entender direito o convite, se era aquilo mesmo. E era. Não respondi, ao invés disso perguntei: haveria ela percebido a porta fechada? Respondeu-me saber que a casa estava fechada. Quis saber ainda se ela ouvia algum som, conversas, televisão que indicasse alguma alma desperta no interior da construção? Novamente o portão disse ter consciência de que nenhum ruído atravessava aquelas paredes. Então resolvi estender um pouco aquela entrevista e testar o quanto ela era perspicaz e perguntei finalmente por que ela achava que a casa estava fechada, dessa vez não obtive resposta. Despedi-me recusando o tal convite e voltei ao computador. Muito tarde, o meu personagem não quis mais falar comigo, demorei demais e ele se sentiu abandonado, essa era a única fala que ele repetia. Deixei então o livro de lado e fiquei matutando sobre o respeito, o quanto anda escasso. São pessoas que batem à porta da sua casa a qualquer hora de qualquer dia, até no domingo, para tentar lhe convencer a aceitar mil coisas, sejam produtos, ideias ou religiões mesmo sem saberem quem você é, do que gosta, como pensa ou se é cristão, muçulmano, judeu ou ateu. Telefonemas no meio do seu almoço ou jantar, “brindes” distribuídos nos mais diversos lugares sem nenhuma intenção a não ser premiar a sua atenção, em troca querem de você apenas “umas informações”. Pronto, você assinou, sem saber, aquela fantástica revista de cinema que por doze meses lhe lembrará da lição maternal de não aceitar brindes de estranhos. Tem ainda aqueles ensurdecedores fogos de artifício que lhe acordam as cinco da matina do sábado ou domingo por conta de “importantíssimas” campanhas publicitárias, eleições - políticas, de sindicatos, condomínios -, ou para acordar os santos e deuses para as comemorações dos seus “aniversários”.
Não precisamos mais pensar em nada, há muita gente que sabe o que queremos, seja a moça daquele cartão de crédito, a lanchonete que numera pratos prontos e imutáveis para a “sua” comodidade, o vendedor que tem o produto que “é a sua cara” ou o missionário que lhe diz que fé professar – a dele, pois só a dele é “verdadeira”. E como somos ingratos: deixamos o telefone fora do gancho com as simpáticas pessoas do telemarketing falando sozinhas, reclamamos dos fantásticos shows pirotécnicos ou batemos a porta para aqueles que querem gentilmente nos fazer companhia aos domingos.

Bom domingo.

Prof. Leonardo Nóbrega

terça-feira, 20 de julho de 2010

DOSTOIÉVSKI E O TRÂNSITO DE FORTALEZA

Em férias guiando pelas ruas da capital cearense nesse mês de julho, coisa que raramente faço em períodos normais de trabalho, aparentemente do nada me veio à mente uma paráfrase – talvez a mais significativa e conhecida – da obra “Irmãos Karamázov” de Fiodor Dostoiévski onde o filho filósofo de Fiódor Karamázov de forma dissimulada afirma: “Deus está morto e se Ele está morto então tudo é permitido”. O homem não teria, então, contas a ajustar com sua imortalidade, não haveria mais recompensa ou punição posterior. Poderíamos, finalmente, viver essa vida plenamente como a única possível.
Deus é pai e, como tal, impõe regras, normas, condutas que precisariam ser seguidas e a desobediência ao que é determinado por Ele seria, certamente, punido de forma rigorosa e inquestionável. O pai, qualquer ele, é aquele que impõe a lei – divina ou humana – e que fiscaliza e pune de acordo com a transgressão do filho. A lembrança que veio “do nada” depois de meditar um pouco ficou cristalina: lembrei do Deus morto, mas pensava na omissão do Estado. O Estado enquanto criador de leis e fiscalizador/punidor está morto. O pai da sociedade está ausente, inoperante, desmoralizado e, assim tudo é permitido. Criar códigos modernos, leis avançadas e não fiscalizar não funciona. Se Deus está morto tudo é permitido: trafegar na contramão, estacionar onde é proibido, avançar o semáforo vermelho, usar o som do carro abusivamente, realizar conversões proibidas, causar acidentes mortais. Precisamos ressuscitar o pai, dá-lhe novamente o poder que lhe foi tirado ou do qual ele próprio abdicou, me refiro aqui ao “pai Estado”, mas também ao pai real, aquele que tem por missão inserir os pequenos na civilização, que possui uma dívida com as gerações passadas: transmitir a cultura e, no bojo desta, as leis que norteiam e mantêm a sociedade. A ética, a filosofia e a educação podem chegar a reger uma sociedade em que o pai morreu; mas ainda é cedo para a Anarquia.
Abraços. Professor Leonardo Nóbrega
OFICINA
"ERA UMA VEZ..."
Uma introdução à visão psicanalítica dos contos de fadas.


João e Maria prestes a serem devorados pela bruxa depois de terem sido abandonados pelos pais; Chapeuzinho Vermelho fazendo perguntas ao lobo vestido de vovó; Rapunzel trocada por comida e isolada em uma torre sem portas proibida de viver o seu amor; Branca de Neve exilada na casa dos anões fugindo da vaidade mortal da madrasta; João descendo o pé-de-feijão com o gigante bufando em seu pescoço...
Quem nunca sentiu um arrepio de medo ao ouvir essas histórias? Mas quem igualmente não respirou aliviado após o desfecho com a superação do sofrimento e o “foram felizes para sempre”?
Essa oficina foi pensada para todos aqueles que estão interessados em discutir a infância, trabalham ou pretendem trabalhar com crianças e que (con)vivem com elas. Objetivamos, nele, sublinhar a importância dos contos na constituição do sujeito humano, no desenvolvimento da sua personalidade, demonstrando como podem ser uma importante ferramenta para a resolução de conflitos em momentos singulares do crescimento.
Orientados pelos conceitos psicanalíticos vamos atravessar a floresta escura e tenebrosa; enfrentar a madrasta-bruxa; deliciar-nos com a casinha de doces e derrotar alguns gigantes e dragões. Também desencantaremos alguns príncipes e despertaremos algumas princesas e, ao final, claro, seremos felizes para sempre.


Facilitador: Professor Leonardo Nóbrega (psicanalista)
Público preferencial: Professoras e professores (Ed. Infantil e EF I)
Outras informações: Cel.: 8868 -1405
ljnobrega@uol.com.br